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Linha afetiva: reparação e separação em corpos cortantes

Gabriella Barbosa

Escultura feita em feltro, linha de costura, cortina e pregos

2020

O presente trabalho consiste em um todo formado por pequenas esculturas feitas em tecido. Trata-se de seis diferentes silhuetas fragmentadas de objetos cortantes (especificamente facas e tesouras) feitas com feltro, e unidas por linhas de costura de maneira que os fios à mostra deixem uma notável distância entre as partes - a forma amolecida dos objetos em tecido apresenta, sutilmente, um formato fálico. Fixadas com pregos a uma pequena distância da parede, as sombras das silhuetas são projetadas levemente sobre ela. Por fim, pregada acima das silhuetas, encontra-se uma cortina que cobre parcialmente os objetos e produz, também, uma leve sombra sobre a parede (pretende-se que o trabalho seja instalado com um foco de luz que acentue suas sombras e contrastes). O ato da costura implica o uso da linha para juntar pedaços. Preencher espaços pela junção de fragmentos flutuantes aponta para a força da linha que os une, que depende unicamente do nó que sela e tensiona a junção de corpos ou partes, mas que estão à um fio de separar-se, em uma ambiguidade entre o unido e o separado. Tal tensão investiga a fragilidade de corpos ou objetos que carregam em si um potencial de corte ou incisão, de dor e atravessamento, mas que são apresentados em um estado de amolecimento e impotência - corpos que remetem simbolicamente ao ato de ferimento, de uma fragmentação traumática, serial e sucessiva, submetida ao contentamento de ligação pela linha e pelo amaciamento de sua superfície cortante. O presente trabalho aponta para um confronto entre a tendência de separação de corpos fragmentários e o ato vicioso de uní-los afetivamente com a linha em uma falha reparação, o que carrega por trás a serialidade processual de uma ação construtiva enquanto desconstrutiva; repetindo, compulsivamente, a linha na costura e na condenação à produzir corpos desfalcados.

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