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aNTRO

Nicho curatorial

   Sociedade por definição representa um grupo de indivíduos que escolhe se relacionar a fim de preservar o bem comum: um princípio fundamental, geral que vincula todos a uma mesma finalidade. Não é um grupo qualquer, mas um grupo soberano estabelecido em seus ambientes cultural, geográfico e histórico, que não depende de forças externas e reside sobre uma rede total e abrangente de relacionamentos, na qual todos os membros e comunidades estão interligados.

   No entanto, outra noção tem se tornado cada vez mais presente nas relações contemporâneas: o homem como o lobo do homem. Para Hobbes, um contrato social regido por regras e normas seria primordial para sobrevivência, nos afastando da extrema barbárie. Hoje, nos encontramos cada vez mais próximos dela. 

   Antro é a origem para as discussões e reflexões que a Era das Fragilidades propõe. Marcada e evidenciada pelos impactos humanos incessantes e inesgotáveis sobre si mesmos, sobre o outro e sobre o meio em que habitam, questionamos:  Quem somos? O que a imagem refletida no espelho tem a dizer sobre nós? Qual a nossa origem enquanto sociedade brasileira miscigenada? É possível estabelecer um embrião comum? Como o ecossistema tem reagido à nossa presença? 

   A arte contemporânea está intrinsecamente ligada ao hoje. Em um movimento de crítica e reflexão, tudo que se debate dentro deste contexto é material para pauta artística. Nesta exposição, artistas como Yago Viana, Wesley Lima Brito, Natalia Tavares, Fabio Hideki e Marina Monteiro exploram desde lugares mais subjetivos e individuais da figura humana no mundo até uma conexão mais direta com os fatores climáticos. A composição da mostra propõe uma reflexão sobre como estamos imersos neste processo cíclico de construção e desconstrução de nossa imagem que influencia e é influenciada pelo espaço e pelo presente.

   Na obra Cantigas (2020) de Yago Viana, o tema é trazido pela questão íntima e subjetiva do artista ao lidar com o tempo, e com as memórias que são construídas através dele. E que tempo é esse? de onde nascem as memórias? E como as nossas vivências foram impactadas e impactaram o mundo presente?

   Já a série Orgânico (2018) de Wesley Lima Brito nos faz pensar sobre a materialidade do fogo e a analogia que se traça a partir das imagens que vão se formando  de seu encontro com o papel. As figuras abstratas reúnem intenção e  acaso, e é deste encontro que surge o conceito de deterioração e queimadas, trazendo reflexões acerca dos problemas ambientais vividos, tão fundamentais de serem repensados como forma de alerta e consciência.

   Na obra de Natalia Tavares, Elric (2019) e o Olhar no espelho negro (2019), a ideia de fragilidade é associada à imagem não consolidada, que apresenta interfências visuais e que nos releva sobre as dificuldades de nos enxergar, ou de nos encontrar em meio ao caótico contexto em que estamos inseridos.

   Horizontes Acidentais (2020) de Fabio Hideki nos mostra paisagens que repetem-se, alternam-se e modulam-se ao longo de sua trajetória. É a ideia das fragilidades conectada às incertezas, as inconstâncias e mutabilidades da vida contemporânea.

   A Era de Hefesto (2020) de Marina Monteiro é o retrato da alienação e ignorância que guia as pessoas diante das situações caóticas do presente, é uma crítica e um lamento ao descaso do homem com a natureza e traz de uma maneira mais direta o que acontece no Antropoceno e como isso se torna perceptível nas artes como ferramenta de voz ativa nas questões sócio-ambientais.

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